Paradigmático. Focados na negociação do Orçamento de Estado de 2011, trama principal, excessivamente dramatizada, embora se antecipe o seu resultado, vão ocorrendo outros factos secundários que traduzem sinais desmoralizantes. Notícias marginais que não auguram nada de bom. Confirmações de um “status quo” quando precisamos, inevitavelmente, de uma mudança profunda. Passo a enumerar:
- Numa concelhia do Norte, um partido com assento parlamentar acabou de eleger como seu líder José Avelino Ferreira Torres;
- Isaltino Morais foi constituído arguido, por suspeita de corrupção, no caso do licenciamento de um projecto na Aldeia do Meco, enquanto Ministro do Ordenamento do Território, no quadro de investigações do Ministério Público;
- Os principais partidos políticos estudam uma proposta para o alargamento dos limites aos donativos particulares como forma de contrariar as limitações ao financiamento partidário assegurado pelo erário público;
- A Unidade Técnica de Apoio Orçamental da Assembleia da República estimou o valor do défice em 8%, valor superior ao previsto pelo Governo;
- Suspeitas de mega fraude na constituição de garantias para atribuição de crédito por parte do BPN, investigação que por arrasto levanta suspeitas ao licenciamento de bomba de gasolina em Sintra.
Enfim, chega… mais do mesmo. São exemplos noticiados que sugerem a vitória do cacique e a total desvalorização da dignidade exigível aos partidos. São exemplos de suspeitas graves de corrupção e abuso de poder. São exemplos de falta de transparência e ausência de rigor. São exemplos desmobilizadores. E não são do passado ou de ontem, são de hoje. E como sempre esquecem-se perante uma aparente passividade colectiva. E essa é a nossa grande responsabilidade. Alheamo-nos e não podemos continuar assim. E mais do que nunca agora.
Porque esquecemos o nosso direito à indignação? Porque não somos mais exigentes a reclamar o compromisso com o rigor e a ética? Porque não valorizamos quem nos fala verdade mesmo quando não nos agrada receber más notícias? Talvez não necessitássemos hoje de tantos sacrifícios. Talvez valha a pena pensar um pouco nisso…