Nem mesmo a consciência que ficaria bem escrever algo a “puxar para cima” me motiva. Não vou fazer isso! Quem passou anos a puxar por alguma coisa, dando o seu melhor em servilismo ao humano, foram os cavalos e os burros de todo o mundo e os da Roménia também.
Aliás, muitos dos que discursam a retórica do otimismo e paralelamente acusam os portugueses de não “puxar para cima” encontram-se habitualmente bem encostados pelo que lhes é natural aquele apelo positivo, aparentemente mobilizador, que tantas vezes mais não esconde do que a hipócrita vontade de puxar tudo para eles próprios. Nem sempre é assim mas infelizmente muitas vezes será.
Um dos graves problemas da sociedade contemporânea tem sido a produção legislativa. Jamais clara e objetiva de modo a alimentar o patrocínio jurídico. A utilidade da lei aproveita o corporativismo da classe que a produz. Que tão pouco se importa com a própria inutilidade da lei quando a cria insensata ou mesmo impossível de fiscalizar. Desde já informo que não passarei fatura a quem estiver a ler…
Mas mais grave do que a lei complexa ou inútil é aquela que determina com eficácia a inutilidade de algo. Assim de um momento para o outro, por simples decreto. O útil passou a inútil porque uma câmara de “elites” determinou.
Recentemente, na Roménia, decretou-se a proibição da circulação de carruagens puxadas por cavalos. Os outrora animais úteis, embrulhados em questões de segurança, por força de lei foram proscritos e por isso determinados inúteis. Logo se especula que a lei não escrita da ganância, mas constitucional no seio da maldade humana, motivou o picadinho dos inúteis dentro de caixas congeladas. E como sabemos, desde sempre o humano também se alimenta da inutilidade, mesmo sem se aperceber, seja por caixas congeladas, seja por caixas mágicas, internet ou mesmo “post’s” inúteis como este.
No meio desta reflexão é que fico verdadeiramente inquieto. Uma vez imposta tão dura lei em Portugal que tem decretado a inutilidade de tantos cérebros e braços outrora úteis. Será que das janelas do Palácio de São Bento, não estarão muitos daqueles que normalmente “puxam para cima”, que observam cada desempregado como se de um inútil cavalo romeno se tratasse? Daqueles que o futuro não será outro que não o seu congelamento a bem da nossa sustentabilidade?
Olho para o Palácio de São Bento e afigura-se-me uma enorme embalagem de lasanha mas cheia de carne da pior espécie. Exatamente daquela espécie que tantas vezes triunfa na sociedade civil quando é capaz de enganar os consumidores vendendo cavalo por vaca, por pura ganância.
Como Portugal bem sabe, viver acima das possibilidades e numa ganância irresponsável sai muito caro. Não será fácil à marca dos ditos congelados recuperar o revés que receberá agora. Mas o problema é que, tal como em Portugal, arrastará consigo um vasto número de inocentes, que nunca foram elites, que não decidiram o embuste e sempre foram a parte útil da produção. Tal como os cavalos picados…